Suco de Bissap
Bissap. Hibiscus. Jamaica. Caruru-azedo. Quantas semelhanças existem nas diferenças?
Há pouco mais de um mês me mudei para o interior do Senegal para viver a experiência de apoiar um projeto social de construção, de uma fundação espanhola. O projeto tem como objetivo entregar um centro de formação profissional para os moradores da região, que hoje em dia, não tem fácil acesso a uma formação após os anos de escola secundária.
Chegando aqui me deparei com uma cultura, idiomas, festas, ritmos e comidas diferentes, dentre as quais: o suco de bissap. Um perfeito elixir, ainda mais se misturado com o fruto do famoso baobab, o pain de singe. Num primeiro momento, o nome não puxa nenhuma referência na memória, mas ao ser servido, a cor rosa escuro logo aponta: é um hibisco. Conversa vai, conversa vem com pessoas locais, percebo que também já cruzei com essa florzinha no México, sobre outro codinome: a jamaica.


Noto semelhanças.
Ao viajar, muitas vezes chegamos em um lugar buscando encontrar diferenças. É natural, o cérebro faz associações com o que conhecemos e desse ponto surge um filtro entre o que é igual e o que difere. A parte curiosa é que normalmente focamos naquilo que difere ao invés das semelhanças. Porque será?
Desde que comecei a viver nômade, percebo muito mais semelhanças que diferenças nos lugares onde vou. Atualmente estou no interior do Senegal, numa comunidade recém saída do status “rural” e cá entre nós, poderia muito bem ser o interior da Bahia. Pés de manga para todos os lados, ruas de areia e um calor extremo.
Talvez foquemos nas diferenças porque assim não nos vemos confrontados com questões existenciais. Meu livro favorito, A Arte de Viajar, traz uma reflexão sobre nossas viagens internas:
“conhecemos pessoas que atravessaram desertos, flutuaram sobre calotas polares e abriram caminho pelas selvas – e em cujas almas, no entanto, buscaríamos em vão evidências do que testemunharam. Trajando seu pijama azul e cor-de-rosa, satisfeito com os limites de seu quarto, Xavier de Maistre discretamente nos compelia, antes de rumar para hemisférios distantes, a notar aquilo que já vimos.”
[a arte de viajar - alain de botton]
Sinto que o processo de notar semelhanças nos torna ainda mais humanos. É como se absorvêssemos enfim, o cerne da questão humana, que indifere de cor, continente, status social e nível econômico: o ciclo da vida e o sentir não conhecem características físicas. Todos nascemos, todos choramos, sorrimos, ficamos felizes, tristes, comemos, dormimos e todos morremos. Talvez a única coisa diferente ao redor do mundo seja o como e o porque fazemos tudo isso.
A beleza de cada lugar mora num equilibrio perfeito entre suas levezas e suas complexidades. E é a partir daí que também entendemos as razões daquele povo. Como diria um sábio jovem amigo “quando damos razão a todos, ficamos sem nenhuma a gente. Dê razão a você mesmo.”
Então se posso deixar algumas perguntas pra refletirmos hoje: Você sabe suas razões? O que te move? Porque faz o que faz? E principalmente: como o faz?
A nossa forma de ser e estar no mundo é a marca que deixamos. Como você gostaria de ser lembrado?
Um grande beijo,
Lex