Eu sou meio obcecada com palavras. Acho que elas são símbolos muito poderosos que (infelizmente) na maioria das vezes nem sabemos de fato o que significam.
É como se tivessem espírito próprio e quando bem utilizadas dão o mesmo prazer de encaixar uma peça de quebra-cabeça. Adoro entender raízes, sinônimos, traduções, mas sou do time de que cada uma é uma, afinal, se fossem todas a mesma coisa (no caso de sinônimos por exemplo), não precisariam ter outro nome.
Gosto de ver como uma palavra traz contorno. Delimita, expande. Limita, não cabe, não representa. Sabe? É um eterno jogo de pertencimento e singularidade.
Não à toa eu disse “obcecada por palavras” ao invés de “apaixonada”. Se você buscar obsessão no dicionário vai encontrar algumas definições envolvendo motivação irresistível e compulsão. Enquanto paixão passa por sentimento intenso, afeto violento e movimento desordenado. Cá entre nós, eu não sou muito fã da palavra paixão, sabe… pra mim ela sempre envolveu uma pitada de cegueira. Mas também não sou muito fã de nenhuma dessas palavras “batidas” que se perderam na maré de “uso desmedido de algo que parece bonito mas não entendo de fato”. Faz sentido?
Ainda assim, esses dias encontrei uma nota no meu celular que dizia “a gente tem paixão” e como já não me lembrava o que poderia ter escrito, abri pra ler:
[assistindo Senna] fico inspirada quando vejo outra alma que cria por paixão. artista não é só aquele que faz um desenho ou uma pintura artista é todo aquele que faz o que faz porque precisa. não sabe fazer outra coisa além daquilo que a alma veio fazer arte é criar com paixão, entrega, dedicação e inspiração e também e só e apenas for the sake of creating o artista também pode ser um escritor, um atleta, um músico ou um professor ou nada disso um vividor artista é o Senna quando corre, a Bia quando grava o podcast, a Amy quando canta... eu poderia dizer que me vejo artista quando escrevo, porque não sei fazer outra coisa, porque preciso da escrita como meio de existir mas acho que sou ainda mais artista quando simplesmente vivo, porque já não sei fazer outra coisa além de seguir a vida da forma que acredito.
Lendo “do futuro” percebo que já não sei se chamaria esse criar por criar, porque se tem de criar como paixão. Porque às vezes me parece missão. E às vezes me parece apenas algo tão necessário quanto respirar. Porque pra mim, a escrita é uma necessidade extrema em momentos de vida intensa. Porque a sensação que tenho é que se o lápis não encontrar um papel naquele exato momento, eu não consigo dar o próximo passo. Mas essa sensação não está sempre lá e também nem sempre é afetuosa, como o dicionário descreveria a paixão.
E então, como a vida é sempre muito sábia e sincrônica, no mesmo dia em que pensava sobre isso vi um vídeo da autora Elizabeth Gilbert falando sobre seguir a nossa curiosidade ao invés da nossa paixão (assiste aqui) e explicando visualmente a diferença das palavras. Lembrei dos amigos que admiro pela sua curiosidade e então o insight: a curiosidade talvez seja a principal característica de uma criança.
Logo, tente se lembrar por aí, o que é que te deixava curioso quando criança? Quais os seus questionamentos na maioria das vezes? Cerque-se daquelas pessoas que pra além de apaixonadas por algo, são curiosas, são empolgadas e mantém aquele espírito inocente na execução das coisas. Porque é essa natureza pura que pode então criar apenas por criar e viver a vida que enfim veio realizar por aqui.
Beijo
Lex