Olho no espelho e sorrio. Eu amo o tom de mel e a luz presente nos meus olhos. As mechas naturalmente mais claras do meu cabelo queimado pelo sol. O tom de pele que em apenas um dia já ganhou um bronzeado digno de propaganda, me lembrando da minha ascendência libanesa. Reparo que os pequenos pelos dos braços acumulam uma camada de sal, de forma poética me lembram o desenho do mar e da sensação de entrega ao me banhar nele. Tomo banho e visto uma camiseta verde escuro e bastante grande, dessas que nos permitem caminhar tranquilamente pela casa apenas de calcinha. Eu amo essa versão. Crua, natural, minha.
Meu deus como eu senti falta dessa liberdade. Da liberdade que existe na calma, no silêncio, na familiaridade. No meu café da manhã despreocupado e no meu cabelo despenteado. Faz tempo que eu percebi que ser livre é muito mais sobre as coisas que eu escolho não fazer do que as aventuras que eu decido viver. É um dos desafios e também presentes da vida em movimento. E meu deus como eu senti falta dessa possibilidade.
A temporada Senegal foi intensa e me conectou com realidades em que possibilidade ainda é uma palavra nova, pouco conhecida. Em que a vida ainda é sobre sobreviver, e não sobre explorar. E que privilégio ter nascido em uma realidade em que explorar é possível. Em que os debates e lutas, ainda que difíceis e iniciantes, já podem existir porque se há um mínimo espaço e tempo para isso.
Sento no sofá, olho o instagram. Tanta gente querendo ser, tanta gente precisando se expressar, tanta gente caindo em outro sistema, achando que assim estão se tornando livres. Quantos anos ou quantos ciclos será que vamos viver e repetir até entendermos que a nossa liberdade não é algo que se explique aos outros? É algo que se vive e ponto.
Faço revisões. A descrição dessa personalidade social já não é o que eu quero expressar. Continuo encontrando tudo aquilo que eu não busco, caminhando pelo mundo. Mas também tenho encontrado algumas coisas que eu sim, busquei, outras que eu sim, plantei. E tomar consciência disso é dizer pra vida que eu me responsabilizo pelos meus passos e por isso posso receber mais do que está por vir.
Sinto vontade de expressar minha verdade de uma maneira ainda mais integral. E isso é bastante difícil porque demanda demonstrar as incoerências e paradoxos inerentes a ser humano. Estou experimentando o mundo, digo ao instagram.
Percebo que algo novo se encaixa aqui dentro com essas palavras, porque isso sim será verdade independente de em que país, fase da vida ou experiência eu me encontre. Talvez experimentar seja o verbo mais democrático das ações. Podia ser sinônimo de novidade, de portas abertas, de despreocupação, de leveza e de possibilidade.
Experimentando o mundo eu reconheci a minha melhor vida: perto da água, tranquila, com muita natureza, sol e sorriso no rosto. Crua, sem precisar parecer nada. Escolhendo o que não quero fazer. A minha melhor vida é quando eu vejo ela sendo minha.
Com amor e muitas novas camadas,
a minha versão favorita de Lex