Desculpe, estamos em construção
eu vivo viajando e isso não é só sobre o mundo que eu quero ver e sim sobre a pessoa que eu quero ser.
A 10 dias de partir para minha próxima aventura, começo algumas limpezas. Talvez o ano novo astrológico que se inicia hoje também tenha alguma parcela nisso. Acordei com uma vontade de vomitar finalizações. Como se apenas escrevê-las, pensá-las ou pintá-las não fosse suficiente.
Há algo muito forte em começar novos ciclos. Eles vem sempre atrelados a finais, é a lei universal. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, diz a física. Pra chegar algo é preciso ir algo, dizem os místicos. Tudo a mesma coisa.
A mochila passa por revisões, e não só a física. Cada camiseta deixada ou reposta equivale a um sentimento revisitado. O que não levo mais comigo nessa etapa? O quanto mudei ou aprendi? O que estou animada por viver? São tantas caixinhas abertas e outras tantas sendo fechadas com orgulho e delicadeza.
Alguma coisa mudou. Sinto que existe um pouco mais de leveza em toda minha profundidade. Um pouco mais de segurança em toda minha preocupação. Um pouco mais de alegria em toda minha imaginação. É curioso se deparar com as novas versões da gente, porque ainda que seja nosso, ainda não nos foi apresentado. Como ser alguém que não se leva tão a sério se sempre fui muito séria? Ainda não sei atuar nessa versão mas já me sinto tão leve na presença dela, tão mais eu (versão atual).
Eu vivo em movimento há mais de ano e ainda assim, cada nova etapa, troca de país ou novo desafio vem de mãos dadas com um medo superficial. É o paradoxo do desconhecido, que tanto atiça quanto intimida, mas se não for encarado com medo mesmo, nunca será desbravado. E pra dentro da gente é o mesmo caminho. Expressar os nossos novos estares, ainda que desconhecidos é uma jornada como uma viagem ao exterior.
Alain de Botton reflete acerca do impacto das viagens em nosso eu, no meu livro favorito: A Arte de Viajar. Deixo aqui uma de suas passagens marcantes no meu desenvolvimento pessoal.
“Não é necessariamente em casa que melhor encontramos nosso verdadeiro eu. A mobília insiste que não podemos mudar porque ela também não muda; o ambiente doméstico nos mantém amarrados à pessoa que somos na vida comum, mas que talvez não sejamos essencialmente.”
A vida é esse eterno moinho que hora sobe, hora desce, mas tendo água, sempre gera energia. E ah, água é símbolo de emoções né, então acho que vocês entenderam. Viver é encarar nossos trânsitos, movimentos, personagens, cenários e capítulos. É nos diferenciarmos da mobília e tornar-nos veículos. Movimento cura imobilidade.
As versões que se transformam serão sempre parte da estrada percorrida, mas o destino final, ainda que o tenhamos em mente, poderá ser sempre mais surpreendente se o caminho for vivido sem muitas certezas.
Com todo o amor do mundo,
uma nova Lex ainda em construção.