#21 - Das coisas que a gente inventa
os ciclos da natureza existem, mas ele não é dia 31 de dezembro :)
Eu amo símbolos e rituais. Mas faz um tempo que as datas simbólicas que inventaram por aí não significam muito pra mim. Logo eu, completamente apaixonada por natal.
Lembro como se fosse ontem do dia 2.01.2022. Voltava de Ubatuba pra São Paulo depois de uma virada de ano tranquila, só eu, família e minha melhor amiga. Tinha pedido demissão do trabalho 10 dias antes e começava a vislumbrar a vida nômade.
Cheguei em Pinheiros às 7h da manhã e fui atravessada pelas pessoas caminhando apressadas pro trabalho, a estação de trem lotada, a marginal a todo vapor. Os rostos cansados, “mais um dia”.
2 de janeiro. Podia ser qualquer 15 de agosto.
Me pergunto pra onde vão as promessas de novo ano. A euforia do fazer diferente. A animação de vislumbrar novos caminhos, tudo sendo da maneira que gostaríamos que fosse. Pra onde?
Desde que caia do céu. Sopra o vento nos meus ouvidos. Porque então o dia amanhece, o ano “muda” (apesar de ser só mais uma terça feira qualquer) e a vontade não vem, o caminho não brota do chão, a cidade ainda é caótica, as notícias continuam péssimas.
Você já sabe que vai haver um trânsito desumano, precisa ligar a TV pra escutar? Não precisa. Você já sabe que acontecem coisas horrorosas no mundo o tempo todo, precisa buscar no jornal até encontrar? Não precisa. Você já sabe que a vontade não vai simplesmente aparecer, precisa se deixar vencer? Não precisa.
Muda o trajeto pro trabalho. Da bom dia pro motorista do ônibus. Sorri pra alguém na rua. Pesquisa sobre a vida no interior, conversa com alguém que contagia positivo. Lê as notícias boas sobre descobertas científicas, vai até o parque e põe o pé no chão.



As datas simbólicas não reprogramam o nosso cérebro milagrosamente, afinal foi a gente que deu símbolo pra ela. Quem faz isso é a gente, e não é milagroso.
Aproveita a alegria contagiante e a esperança gritante do 31.12 pra se impulsionar. Energia boa sendo vibrada em conjunto é estilingue. Aproveita o natal pra rir daquela situação que não muda, daquela piada que atravessa gerações. Aproveita pra pensar: se ninguém desse presente comprado, ou se a indústria quebrasse e os materiais acabassem, o que você daria de presente pra essas pessoas? Uma carta, um desenho, um abraço? Atenção? Aproveita.
Mas aproveita uma terça feira qualquer também.
Você não precisa acordar maratonista, mas talvez agora você caminhe 10 minutos todo dia. Ou quem sabe antes de tomar café, respira fundo 3 vezes, abre a janela, toma sol no rosto. Você não precisa pedir demissão mas talvez você possa ir embora as 18h em ponto. Você não precisa mudar completamente a sua alimentação mas pode inserir uma saladona primeiro em toda refeição.
Depois daquele 2 de janeiro, a vida realmente mudou. Mas não foi o externo. Eu mudei minha abordagem. E depois disso os caminhos se multiplicaram. Porque eles aparecem sim, a questão é que não dá pra ver a próxima curva a 20km de distância. Mas da pra ver a 200m.
Não se esqueçam: o calendário foi a gente que inventou.
Se não existisse calendário qual seria o dia que você escolheria pra mudar?
Feliz Natal e Boa energia de novo ano,
que sejamos cada vez mais corajosos e questionadores
Lex
afff Leh, que texto provocador e, por que não, incentivador.