#19 - Bem aventurados os que se aventuram
porque enfim percebem que nunca houve nada a perder
Se eu pudesse fazer um pedido pro gênio da lâmpada seria que: todas as pessoas entendessem (de verdade) que deus é tudo o que existe, inclusive elas mesmas; que o tempo não existe; que física, química e espiritualidade falam exatamente a mesma coisa; e que pra tudo (1) o que há, existe um contrário (2) e o espaço (3) entre os dois. O cá, o lá e o nem cá nem lá. Simples assim, rs.
“Só isso, querida?” tenho certeza que ele me perguntaria às gargalhadas.
Calma, fica comigo, voltaremos a algo mais tangível.
A minha vida nunca seguiu o rumo que eu imaginei que seguiria, em nenhuma época. E ainda bem. Porque só chegando “do outro lado” é que percebia que foi tudo muito melhor do que eu poderia ter imaginado. Era como se eu pudesse enxergar apenas o que eu queria e o que eu não queria, mas nunca o espaço do meio, onde habitam infinitas outras possibilidades nunca mapeadas.
Quando pensava em ser atriz ou advogada, nunca cogitei ser arquiteta. Quando pensava em trabalhar com projeto de arquitetura ou paisagismo, nunca cogitei trabalhar com legislação (que foi onde parei). Quando pensava em morar fora do país, costumava ser por trabalho ou estudo, nunca por simplesmente viver. Todas as vezes que a vida recalculou a rota, o presente era melhor do que eu tinha imaginado.
Mas preciso adicionar um pouco de crédito à minha pessoa por ter topado embarcar nos barcos que aportaram. Por ter sido firme em seguir aquilo que eu tinha vontade no momento (afinal bancar nossos desejos não é algo muito apoiado nesse mundo). Por ter topado trocar de faculdade quando entendi que a rotina da primeira me deixaria infeliz, por ter topado tentar um estágio na prefeitura mesmo depois de ter criticado a vida toda aquele caminho, por ter ido pedir demissão na semana do natal, sem nem olhar pra trás, sabendo que mais importante era começar o ano com novas atitudes do que me manter em um lugar que me fazia mal. Por ter escutado quando me pediu pra saltar rumo ao desconhecido de viajar o mundo sozinha, porque apesar de não saber como faria, eu sabia que era aquilo que era pra fazer.

Eu sei que você entende. Também tem uma voz aí dentro que sabe exatamente o que fazer. E também sei que logo em seguida dela vem uma outra extremamente pessimista que cria todos os piores cenários, não é mesmo? O que eu fiz foi dar palco pra essa velha ranzinza que não quer que eu me arrisque. Sim, dar palco. Porque através dela posso perguntar “Qual o pior que pode acontecer?” E sabe o curioso? (atenção porque as próximas frases serão extremamente práticas e soarão insensíveis)
Normalmente ele só tem cara de 2 coisas: não ter dinheiro ou morrer. Pro primeiro há solução e pro segundo nem tem pelo que se estressar, ele vai acontecer uma hora ou outra mesmo. E inclusive, pensando assim, tenho ainda mais vontade de viver tudo o que puder. Experimentar todas as versões como se fosse a atriz que um dia quis ser.
E aí muitas vezes me perguntam: mas você não tem medo? E sim tenho vários, mas novamente, quando pergunto pra minha ranzinza de estimação “qual o maior medo?” ela prontamente responde: não ter vivido.
Porque a verdade é que a gente não tem medo de morrer. A gente tem medo de morrer sem ter vivido.
E talvez você não tenha reparado mas vou juntar os pontinhos. Percebeu quem está aqui de novo? Ele mesmo: o espaço, o meio do caminho entre o cá e o lá. (Pode chamar de vida também, é que poucas pessoas sabem que esse é o apelido dele)
O oposto da morte não é a vida. É o nascimento. Assim como o oposto do amor é o medo e o do ódio é a paixão. O oposto da vida é o desencanto, a não-ação.
Se eu pudesse fazer um adendo às palavras de Jejé (Cristo, Jesus), acho que ele me permitira dizer que “bem aventurados os que se aventuram, porque então vivem e assim percebem que nunca houve nada a perder”.
Feliz novo mês, comunidade! Como boa filha de Iansã, recomendo: bora ventarrrr!
Com carinho, Lex.
Oi Leh, ótimo texto. Essa "vida a ser vivida" é o que nos faz realmente sentir vivos. O desafio é queimar as pontes dentro deste grande sistemão em que vivemos, pois, acredito eu, por confiar de menos no Universo, acabamos com dúvida sobre cada escolha 'diferente' do que socialmente seria o mais indicado, e isso nos consome demais. Mas é: quando queremos uma vida autêntica não há outra saída: ser um pouco louco e confiar, mesmo que seja pela goela abaixo. Bj
Esse texto todo me lembrou muito uma frase que ouvi uma vez e guardei no coração: "quando a morte te encontrar, eu espero que ela te encontre viva". Não viva de coração batendo, mas viva de vivendo a vida mesmo 💛