#15 - É mais prático, mas...
quantos processos e memórias afetivas suprimimos por nos entregar à praticidade que o mundo da produtividade nos ensinou?
Esse é um dos exercícios da oficina de escrita criativa conduzida pela autora Liana Ferraz, disponível na Casa do Saber. Ali, ela busca conduzir nosso pensamento criativo através do confronto. Semana passada, entre praias e rotinas de estudo, me dediquei a realizar os exercícios dessa oficina. Ela da alguns exemplos, como por exemplo “é mais prático ter toda uma biblioteca em kindle, mas…” e nossa cabecinha pensante automaticamente preenche as reticências com aquilo que nossa memória afetiva traz, como no meu caso: o cheiro do livro.
Quando chega a minha vez de fazer o exercício, escrevo: é mais prático preparar um café de cápsula na máquina, mas eu amo o processo de esquentar a água, encaixar o filtro, ver a transformação do pó em líquido e dessa maneira lembrar das várias etapas da minha própria transformação. O cheiro de café invade a minha memória e percebo que eu já tinha utilizado essa analogia antes… em 2021, durante um momento importante no entendimento de um término de relacionamento.
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Me lembro de voltar pra casa as 7h da manhã após uma noite de conversas difíceis e provavelmente o que seria a última conchinha por um longo tempo… talvez pra sempre, mas eu escolho acreditar nas infinitas voltas que o mundo dá. Na minha casa encontrei silêncio e uma vontade de passar um café. E que difícil foi preparar aquele café. As palavras ânimo e força tinham desaparecido do meu vocabulário.
Passar café também passa tristeza, eu pensei.
Acho que a questão da praticidade na vida atual é que a longo prazo ela nos traz mais desafios do que soluções, porque a gente desaprende o meio do caminho para muitas coisas. Cada dia fazemos menos fisicamente deixando espaço para mente criar mais caraminholas ou querer acompanhar o ritmo das máquinas que, surpresaaaa: não somos.
Nos devoramos por dentro para tentar acompanhar um ritmo que não seremos capazes, por uma diferença primordial: o sentir. O sentir tem outro tempo. E nós somos feitos de sentimento e pensamento, não só de execução.
A praticidade está matando os processos. E talvez dentro de uma empresa seja ótimo, mas dentro do corpo humano é sinônimo de ansiedade e possível infelicidade. A vida é um grande processo. Não temos um lugar exato a se chegar, porque assim que chegarmos lá, sentiremos necessidade de construir outro caminho, outro sonho, outro motivo para continuar.
Não quero ser o clichê ambulante que diz: aproveite o hoje. Mas se você tiver um tempinho, escreva algumas notas onde puder com esse exercício. O que é mais prático, mas… pra você? Talvez essas sejam as coisas que você tem vontade de manter os processos. Ou que vão te lembrar que a vida não é um checklist a ser cumprido e sim um tempo a ser disfrutado.
Grande beijo,
Lex